sábado, 19 de julho de 2008

A responsabilidade cósmica do ser humano.


A responsabilidade cósmica do ser humano



"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16 (BVN)

A palavra "mundo" vem do grego "cosmo", que também significa ordem ou universo em sua forma harmônica, ordenada, (daí a palavra derivada cosmético). E seu oposto é "caos" que significa desordem, desarmonia.


O universo se apresenta sempre caótico e cosmético. Numa eterna situação caótica a qual nos oportuna criação, regeneração, expansão, como o Big Bang, por exemplo. Daí entra o cosmo formando e harmonizando o resultado do caos. Colocando beleza e ordem no que foi criado ou regenerado.


Assim penso no texto bíblico acima citado. Deus amou o cosmo de tal maneira que deu seu Filho, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Ou seja, Deus amou o cosmo, a disposição ordenada e harmônica da criação. Não amou o caos, ou o ato a criação, o fato de ter criado, ou o momento da criação. Deus amou a criação pronta, bela, harmoniosa, linda, adornada e ordenada (cosmo/mundo).


Mas por que Deus deu seu Filho para morrer pelo mundo?


Porque é a única forma de trazer cosmo ao caos no mundo depois da queda do homem. Onde toda a criação sentiu a dor da queda. Toda criação, resultado do caos se tornou desordenada, feia, subjugada por um sistema corrompido e corruptor. Onde o caos atua com muito mais força de forma desequilibrada com o cosmo. A velocidade do caos é tanta desde que o homem passou ser portador do conhecimento do bem e do mal, vide a velocidade espantosa das descobertas e invenções do ser humano nos últimos séculos, que o cosmo já não acompanha tal escalada condenando toda a criação (mundo) a um estado de desordem.


Penso que Deus preocupado com tal desequilíbrio, proporcionou ao mundo uma saída. De Deus desce a nova criação. Seu próprio Filho nos ensina e nos dá exemplo de amor ao trazer harmonia a este mundo. Exemplos? As curas, os demônios expulsos, a inversão dos valores mundanos que privilegia o caos, (enquanto poder criativo) em detrimento do cosmo (enquanto criação ordenada, bela e harmoniosa). O homem sendo ser espiritual pelo sacrifício vicário e transformador de Cristo, renascido, é agora capaz de se compadecer, de sentir o sofrimento do mundo e trabalhar de forma a ordenar, harmonizar novamente toda criação.


Depois de tal sacrifício divino, o homem volta a sua condição primeira de mordomo da criação, ou seja, o guardião responsável pelo mundo, pelo usufruto sustentável e digno de toda criação divina. É de responsabilidade humana o cuidado com o mundo. Cabe ao homem combater toda feiúra e desordem e o próprio sistema corrompido trazendo a luz um sistema regido pelo amor. Com as ferramentas fornecidas pelo Ruah (Espírito) de Deus, conforme nos ensinou Cristo a manuseá-las. O homem é o agente cosmético do mundo devendo combater a fome, a inveja, a avareza, injustiça, cobiça, homicídio, pobreza, miséria, doença, morte e toda forma de feiúra e desordem conforme os padrões divinos, com a sensibilidade e as ferramentas dadas por Deus, por intercessão de Cristo, pelo Espírito de Deus.


O homem ainda não entendeu que passa a ser divino ou semelhante ao Divino quando age de forma a corrigir o desequilíbrio entre caos e cosmo. Quando consegue usar seu poder criativo de forma a melhorar a vida na terra, sem desprezar toda e qualquer forma de vida em detrimento de outra.


Deus amou o belo, o harmônico, o cosmo, o mundo todo por Ele criado, a ponto de sacrificar seu próprio Filho, para tornar-nos novamente guardiões do cosmo. Para redimir toda a criação da feiúra em que o homem conhecedor do pecado a destinou. Portanto Deus não amou somente ao ser humano. Deus amou e ama ao mundo, enquanto criação sua. E ao homem foi ordenado cuidar e guardar a criação, usufruindo sim, mas de forma que torne bela ou pelo menos a mantenha bela, em vez de destruí-la de forma egoísta e irresponsável.
Se agíssemos em conformidade com a vontade divina, estaríamos livrando o mundo e a nós mesmos das conseqüências desastrosas que o uso desordenado do mundo (criação), com certeza e impiedosamente nos trará fazendo-nos perecer no próprio ambiente em que vivemos.


Acredito no sacrifício vicário de Cristo por amor não somente ao homem, mas a toda a criação que está sujeita ao sistema corrompido pelo pecado, pelas mãos do homem, e que agride ao próprio ser humano em sua essência quando não dá a devida atenção ao que Deus criou. De forma que ao destruir o mundo criado o ser humano destrói a si próprio, pois não há como não sofrer conseqüências pelos atos irresponsáveis uma vez que o homem é parte intrínseca e inseparável da própria terra. Ou ainda mais, o homem e a terra são um, pois não haveria vida humana na terra, sem a terra.


Ao contrário que muitos pensam, e às vezes até se desencorajam na luta pela ecologia e uso sustentável da natureza, não acredito que a terra será destruída pelo homem. Creio no que se chama de autopoiese, termo grego para regeneração. A terra recebe toda a agressão do homem e ao contrario do que pensamos não nos revida. Apenas se contorce, absorve o impacto e se prepara num esforço supremo para a renovação. Quem nos garante que os movimentos das placas tectonicas e o degelo do artico entre outras manifestações geologicas ou de outra especie, não são indicios de constante e dolorosa renovação da natureza?
Sim, o mundo sem duvida é algo divino.


Criado imperfeito, como o homem, para que juntos caminhassem de encontro ao que é perfeito. Mas caiu junto com o homem toda a criação e caminham juntos hoje para o caotico. E o homem se afasta cada vez mais de sua missão e responsabilidade primeira e mais importante... Ser despenseiro fiel da multiforme graça de Deus revelada na criação do mundo.


E agora me atrevo a escrever: Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu seu filho único para mostrar ao homem seu amor por toda a criação e ensinar–nos a amar esse mundo ao ponto de morrermos sendo fiéis a Deus como senhores deste mundo e vivermos tendo a devida responsabilidade para com o mundo criado. Para que todo o que nEle crê não pereça na própria terra em que dela nasceu, mas tenha vida eterna, como eterna é a força criadora do mundo, a saber; o próprio Deus.

By Presbitero Fabrício Canalis

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