terça-feira, 22 de julho de 2008

A missão dos filhos de Deus em relação ao cosmos


“31 Quem vem das alturas certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos
32 e testifica o que tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho.
33 Quem, todavia, lhe aceita o testemunho, por sua vez, certifica que Deus é verdadeiro.
34 Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida.
35 O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos.
36 Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3. BVN)

A palavra homem deriva de humus que significa terra fecunda. Adão vem do hebraico Adam que significa criatura feita da terra. E Adam provém de Adamá que quer dizer mãe-Terra.

Partindo dessa premissa, podemos entender duas coisas importantes. Primeira: o homem e a terra são um. Segunda: Jesus e o Pai são um.

O homem tem como mãe a terra, pois dela veio, vive por meio dela e dela fará parte novamente no advento da morte física. Jesus é parte integrante do próprio Deus, pois d’Ele veio, viveu por meio d’Ele e voltou a Ele e com Ele vive eternamente.

O ser humano em sua natureza terrena não pode sequer anelar o saber ou o conhecer das coisas de natureza divina. Pois sendo humano não tem em sua essência sequer o desejo de outra coisa que não seja as de natureza terrena.

Mas se o homem tem tão forte em si essa natureza terrena, que muitas vezes usa para tentar eximir-se da culpa que traz sua concupiscência, por que não traz também com a mesma força o desejo de proteger sua mãe Terra? Por que não é latente em sua alma a responsabilidade pelo cuidado universal da criação?

Aí vem a providência divina em favor da criação, enviando Jesus Cristo, para nos mostrar como cuidar desse mundo do qual fazemos parte. A diferença é que Cristo não tem somente a natureza divina. Sendo o próprio Deus, trouxe também em si a natureza humana, pois em Jesus o Filho de Deus e o filho do homem são a mesma pessoa. O Logos, (Verbo ou Mente de Deus), manifesto em carne era igual a Deus.

No Concílio dos líderes da igreja de Calcedônia (ano 451), reforçada pela lei do Estado, ficou clara a definição de Jesus como Deus-Homem: Jesus é totalmente Deus e totalmente homem. Essas duas “naturezas” estão unidas em uma só “pessoa”, mas sem ser mudadas ou confundidas. Elas permanecem distintas, mas reúnem-se em uma só pessoa, Cristo.

Quando o Espírito Santo gerou o menino Jesus no ventre de Maria, milagrosamente, Ele uniu divindade e humanidade, que permanecem eternamente, fazendo de Cristo um intercessor competente da raça humana, pois jamais perderá sua humanidade.
Com isso o plano de Deus para a remissão de toda a criação começava a ser mostrado, ensinado e o mais importante praticado por Jesus como exemplo a nós humanos.

Após sua morte e ressurreição, Cristo deu-nos acesso a uma importante condição: a de filhos de Deus. O que era antes impossível ao homem terreno e carnal, agora se torna parte da natureza divina em nós enxertada pelo Espírito Santo. Descortinam-se aos olhos dos homens então, o conhecer a Deus e sua vontade para com a criação, mas também se torna clara a responsabilidade humana para com o cosmos.

O testemunho de Cristo continua não sendo ouvido hoje. Jesus testemunhou o amor do Pai pelo cosmos e sempre fez algo para melhorar sua situação enquanto aqui esteve. E a cada vez que isso fazia, manifestava a sua natureza divina real e verdadeira. O que de Deus se pode conhecer foi-nos revelado na criação e na pessoa de Cristo.

Qual igreja hoje entende sua missão como mão de Deus e braço do Senhor? Quem de nós sente o peso da responsabilidade de cuidar do cosmos amando-o conforme o exemplo de Deus em Cristo? Quem de nós sente simplesmente a responsabilidade de amar ao próximo como vivido por Jesus?

Deus confiou às mãos de Jesus o que antes fora confiado às mãos humanas, mas, o homem não se atentou a essa responsabilidade. Ou seja, Deus confiou a Jesus o mundo todo, todo o universo, toda a criação.
O homem desistiu de sua condição de senhor da criação ao corromper-se no conhecimento do bem e do mal. Jesus veio e resgatou novamente esse senhorio tornando-se eterno Senhor de todas as coisas. Agora a única maneira de o homem recuperar seu senhorio sobre a criação é sendo co-senhor com Jesus.
Ou seja, o homem pode e deve se assenhorar novamente de todo o cosmos, através do crer em Cristo. Ao crer, através da fé de Cristo, o homem se torna parte de uma nova criação: a dos filhos de Deus.

Assim é possível ao homem compadecer-se da criação e cuidar dela com responsabilidade e atributos disponíveis somente aos que dessa nova criação fazem parte, como manifestou Cristo em seus sinais. O objeto dos sinais foi a criação, e objetivo sempre foi mostrar o amor do Pai pela criação.

Portanto, quem crê no Filho tem a vida eterna, pois a natureza divina é eterna. O que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus por ter condenado a si próprio e toda a criação a uma condição miserável de morte, quando a vontade de Deus é que todos tivessem vida abundante.

By Presbítero Fabrício Canalis

Um comentário:

Julio Zamparetti disse...

Muito bem pensado, presbítero! Se Deus confiou todas as coisas ao Filho, vale-nos lembrar de que toda obra é realizada por um corpo. Isto é, a cabeça ordena e o corpo opera. Portanto, descruzemos os braços, pois somos a igreja e a igreja é o corpo de Cristo. Por isso as obras que a igreja realiza, realiza-as em nome de Jesus, pois a igreja é a presença visível do próprio Cristo, na terra. Assim, é dever do corpo de Cristo cuidar de todas as coisas confiadas ao Filho.

Christus Victor!