segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A ressurreição de Lázaro


"Então ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias.
Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu se creres verás a glória de Deus?
Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu disse: Pai graças te dou porque me ouviste.
Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste.
E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro vem para fora.
Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras, e o rosto envolto num lenço. Então lhes ordenou Jesus: Desatai-o, e deixai-o ir." João, 11: 39-46

Jesus se arrisca em ser apedrejado pelos judeus e volta para a Judéia, para ressuscitar a Lázaro. Dizer que se arriscou talvez não seja apropriado, pois, sabia que a hora de seu calvário ainda não havia chegado. Nessa fé, ele retorna a cidade onde antes fora aviltado, com um intuito maior que era a manifestação do Reino de Deus aos homens, tanto aos seus discípulos, quanto a todos quantos pudessem vir saber de tal sinal.

Isso me faz pensar que quando temos um objetivo firme e sabemos da tarefa que nos cabe cumprir aqui na terra, a morte perde seu efeito aterrorizante sobre nós. O medo dela perde a razão de ser.

Demonstrando amor e sua humanidade, Jesus chora a morte de seu amigo Lázaro. Agora, por que iria Jesus chorar por algo que poderia e iria facilmente reverter? Porque é humano e sente profundamente em seu íntimo o sofrimento humano. Não só pelo fato de ser humano, mas pelo amor que sente pela humanidade. Ao contemplar o sofrimento das pessoas que amavam a Lazaro e também por conhecê-lo e amá-lo, e por saber de tudo o que Lazaro significava para aquelas pessoas e comunidade local, Jesus tenha chorado sua perda momentânea. Mas a verdade é que nunca saberemos. Somente Jesus sabe o que sentiu naquele momento em que lágrimas rolaram por sua face em resposta a dor em sua alma.

Em outra passagem a Bíblia cita que Jesus se comoveu intimamente, ou em suas entranhas, isso nada mais é que sentir aquele frio no estômago, um mal-estar que sobe para a garganta e dispara o coração, quando ouvimos alguma má noticia sobre quem amamos. Era isso que Cristo sentia sobre o sofrimento do ser humano.
Por isso resolve ir até lá para trazer Lazaro de volta a vida.

Mas, Jesus também volta para cumprir a vontade do Pai, manifestando que o Reino está presente. Que ele é o doador da vida, e é o principio de toda vida.

Jesus sofre com a morte de Lázaro, mesmo sabendo que iria fazê-lo viver em breve. Algumas pessoas insistem em dizer para alguém que acaba de perder um ente querido, que tem que ser forte, que tem que dar testemunho cristão mantendo-se frio e calmo. Mas, qual ser humano se conforma com a morte? Jesus sofreu e chorou naquele momento. Ele que iria ressuscitar a Lázaro em alguns dias. Por que não nos dão o direito de chorar, sofrer, por causa de nossa perda? E o dar testemunho cristão se resume somente em se manter calmo e conformado com a morte de um ente querido? E as outras coisas? E os outros frutos que temos que produzir como conseqüências de uma fé salvífica?

Jesus sabia que Lázaro ressuscitaria. Pois, estava em contato com o Pai, conhecia sua vontade, e tinha fé. Além de ter todo o poder na terra e nos céus e tudo estar sob sua autoridade. Tanto que sua oração não foi uma oração "de arrancar faísca do trono de Deus", mas um simples agradecimento por aquilo que Deus iria fazer ali, e pelo fato de Jesus poder glorificar o nome do Pai mais uma vez através do ato que estava prestes a fazer.

Cristo chama: Lázaro vem para fora.
E sai o que estava morto, mas, agora vivo!
Jesus trouxe novamente à vida, àquele homem a quem amava.

Neste ato Jesus nos diz a todos, de todas as eras, que no Reino do Pai a morte não existe!
O sofrimento não existe!
A dor não existe!
E que ele subiria ao Pai, mas nos deixaria aqui com a missão de continuar a obra por ele iniciada. Com seu aval e oração intercessória junto ao Pai.

Com esse exemplo nos incita a pregarmos o Reino de Deus manifestando sua glória, amenizando toda forma de sofrimento e injustiça neste mundo. E isso não depende de milagres divinos. O milagre é bem maior do que os que Jesus fazia.

É o milagre de nós mesmos nos importarmos com o sofrimento alheio, não ficando alheio a esses sofrimentos. Fazendo a parte que nos cabe.

Parar de orar para que Deus mate a fome mundial e ver que só com o desperdício de comida nos países abastados seria possível alimentar toda a população faminta do mundo. Só com os grãos que se perdem nos meios de transportes seja ferroviário ou rodoviário, além dos containeres em navios de carga, alimentariam muitas, mas, muitas pessoas e rebanhos de animais no Brasil em nossos países vizinhos.

Usar todo conhecimento a disposição do homem, para sanar as necessidades básicas em vez de criar e fabricar armamentos e máquinas de guerra de ultima geração, ou viagens espaciais que exaurem os cofres públicos e privados em milhares de milhões de dólares a cada grande projeto espacial. E quanta gente padecendo fome, doenças e injustiças sociais!

Penso se há alguma coisa que Jesus poderia ressuscitar na atualidade. E minha resposta é pronta. Sim! O compromisso da igreja para com o mundo.

Algumas igrejas dormem, outras estão mortas em suas obras e fé inoperante. As igrejas só têm fé para ver milagres. Não para fazê-los. Explico: a igreja diz ter fé para ver as maravilhas que Deus deve fazer em favor da humanidade. Mas, não tem a fé para com coragem agir por si mesma em favor da humanidade, quando na verdade é o papel dela. E não mais de Deus ou de Jesus. Nós somos corpo de Cristo.

Se há necessidade de um milagre, esse milagre é entendermos que o trabalho está em nossas mãos. E que esse trabalho foi negado aos anjos fazerem privilegiando os homens. Esse trabalho é nada mais que anunciar a Boa Nova, e não só com palavras. Mas, com ação, e fé que opere transformação de vida, e salvação de almas. Pois fé sem obras é morta, e sem fé não há salvação.

Há em mim alguma coisa que Jesus ama, mas que morreu, e precisa ser revivida?
Será que há em nós a necessidade de um avivamento? Se sim, que seja um avivamento diferente de gritos histéricos, barulhos e unções estranhas, “falaçada” em línguas que ninguém entende remetendo-nos aos dias de Babel. Mas um avivamento de amor ao próximo. De como descrito em Atos dos Apóstolos, não haver entre os da comunidade quem necessitasse de algo, pois nada era de ninguém, pois, tudo era comum a todos.

Ressuscita Senhor em sua igreja o desejo de te louvar, de trabalhar amando e servindo ao próximo, de te servir, de te amar, de amar aos irmãos.

O que mais pediríamos ao Senhor?
Talvez uma fé operante, a obediência, a humildade, a vontade de agir mais, a fidelidade a Bíblia, distância do comodismo em que se encontra a igreja atual?

Não sei o que você pediria. Sei o que eu preciso pedir perdão pela inoperância da igreja diante de tantas dores e mortes neste mundo. E vou fazê-lo, crendo que o Senhor já nos perdoou e espera pacientemente pelo dia em que nos coloquemos em pés para ser corpo de Cristo verdadeiramente.

By Presbítero Fabricio Canalis

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