quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A "psiquè" de Cristo







Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder. Lucas 12:49


Depois de várias exortações e avisos, Jesus diz aos seus discípulos a frase acima.

Muitos já ouviram essa frase como se Jesus ameaçasse mandar fogo do céu para destruir essa terra, esse mundo que jaz no maligno.

Outros preferem dizer que seria o pentecostes que perdura ainda hoje na visão de alguns, onde o espírito de Deus seria o fogo que batizaria a terra.

Acredito no seguinte: Cristo se referia simplesmente a essa diretriz, essa visão que ele estava passando aos discípulos.

De cuidar do mundo, das pessoas, das criaturas, anunciando o Reino e manifestando o reino aos povos.

Onde a inversão de valores é de fundamental importância. Onde o dinheiro, as riquezas, as pessoas estão a serviço de algo maior, a saber o próprio reino.

Jesus até mesmo adverte aos seus discípulos quanto ao cuidado que devem ter para que não se percam dessa visão e após morrerem ainda a terem lançada no esquecimento.

(Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer).

A visão era espalhar o evangelho libertador e salvador por toda a terra de maneira que não houvesse mais necessidades que não fossem satisfeitas pelo próximo.

Onde uma terra seria batizada com o batismo do Senhor que é uma entrega tal ao próximo, capaz de consumir a própria vida em função dessa visão do bem estar do outro. Como foi o batismo de Cristo na cruz.

Na idéia de Jesus a terra arderia nas chamas dessa visão e o combustível a ser queimado seria o egoísmo e toda a concupiscência carnal que impede o ser humano de ser o despenseiro fiel que Deus deseja que seja.

Portanto não adianta ficarmos orando pedindo um avivamento, um derramar do Espírito, quando não há sequer uma fagulha dessa chama para arder em prol de toda a criação.

De que adianta o “pentecoste” atual, se nem sabemos que espírito somos. Achando que Deus falava, no texto acima, de mandar fogo para queimar os infiéis aqui na terra e poupar os bons crentes.

Se Deus mandasse fogo para queimar destruir os infiéis, não sobraria uma pessoa sequer.

O sonho de Deus é ver a terra e as pessoas consumindo e gastando suas vidas, posses e tempo, tudo visando o reino de Deus manifestado-o ao próximo.

Se fizéssemos isso em primeiro lugar, nem existiria primeiro ou segundo lugar. Pois Deus de nada deixaria faltar aos seus, pois cuidaríamos uns dos outros como sendo as próprias mãos do Altíssimo.

Jesus teve uma visão que comunicou aos discípulos e disse “quem dera já estivesse ardendo”. Essa chama ardeu nos apóstolos, mas se perdeu até chegar a nós.

E hoje essa frase dita por Jesus é pregada de forma distorcida afastando-nos ainda mais do sonho de Cristo em ver a terra ardendo em amor mutuo e recíproco.

É muito mais fácil ficar clamando ao Espírito Santo por um avivamento que nunca chega. E culpa-lo por isso. Afinal o avivamento não se dá porque o Espírito Santo não quer.

Que estorinha ridícula de pessoas que não querem se dispor a trabalhar e abrir mão de sua própria vida em amor à vida comum!

O fogo foi lançado em cada cura, cada ato ou palavra de Jesus e seus apóstolos. Agora o fazer arder depende de mim e de você.

Depende de cada um de nós ardermos essa mensagem libertadora do evangelho a todo canto do mundo. Cabe a cada um de nós o entregar-se e gastar-se em favor da vida.

E assim o fogo se espalha e um dia, com certeza um dia, o sonho de Cristo se tornará realidade: a terra toda arderá com o fogo do amor de Deus, consumindo todo egoísmo e todo individualismo burro e destrutivo.

Extirpando do meio do seu povo a falta de amor e cuidado com o outro.

Devemos nos lembrar sempre: O segredo não é multiplicar, mas sim partilhar!

By Presbítero Fabricio Canalis

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