terça-feira, 23 de junho de 2009

O diabo na carta de Pedro

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”.
(I Pe. 5:8, 9)

Seguindo no propósito de trocar a palavra diabo por concupiscência da carne, analisaremos o texto acima proposto.
Pedro que já era bastante experiente quanto a ser peneirado por satanás escreve o documento dando o seguinte conselho: “Sede sóbrios e vigilantes...”. Sóbrio quer dizer: abstinente, abstêmio, casto, moderado, recatado entre outros sinônimos.


E vigilante quer dizer: atento, cauteloso, precavido, prudente. Agora, de que adiantaria ser tudo isso contra um diabo que é ser maligno perito em enganar e com tanto poder capaz de desencaminhar (se possível fosse) os filhos de Deus?

Mas se pensarmos no diabo como nossa própria concupiscência carnal, nossa tendência pecaminosa, nosso desejo pelo pecado, e nossa incrível capacidade em nos enganar a nos mesmos em favor de atos pecaminosos, fica mais clara a intenção de Pedro. Ele escreve justamente isso.


Cuidado consigo mesmo, sejam abstêmios da carne, sejam precavidos contra os desejos da carne e suas palavras doces como mel, mas que levam a inteira submissão à sujeira do pecado. Não que isso leve o pecador ao inferno, mas desvia a atenção da pessoa da vontade de Deus e das coisas que Deus tem para nos dar como a maturidade espiritual necessária para viver uma vida aos seus pés e impede-nos de dar os Frutos do Espírito.


A contemplação e o ceder às concupiscências nos mantêm sempre nos mesmos erros, na mesma vida, nos impede de crescer e amadurecer e ser mais parecidos com Cristo.
“O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.” Será que um ser maligno anda ao derredor de todos os cristãos no mundo? Então o diabo é onipresente assim como Deus?


Creio que o diabo mencionado nesse texto é a malicia do ser humano em convidar-nos e tentar-nos a atender a concupiscência carnal. E essa concupiscência poder ser qualquer coisa que nos desvie da vontade de Deus e nos insira no contexto desse sistema mundano corrompido pelo pecado ao qual temos que nos opor com toda força e reverter o mal que o mesmo tem provocado à vida das pessoas e a toda a criação.


“Resisti-lhe firmes na fé”. Resistir a quem? Ao diabo, “poderoso ser maligno” que só Deus pode conter e Jesus o único a resistir-lhe? Não creio nisso. Pois se Deus e Cristo já o venceu, ainda tenho eu que resistir a ele? Creio que Pedro mais uma vez se dirige à tentação e o desejo pela concupiscência carnal.

Devemos resistir às tentações de fazer parte ou de contribuir com o sistema mundano corrompido como, por exemplo: agir com injustiça, maltratando ou deixando que maltratem a criação como um todo. É resistir à própria cobiça de ter mais do que necessário e a custa de outrem ou do meio ambiente. É resistir ao desejo de passar os outros para trás, de se dar bem a qualquer custo.


“Certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”. Outra coisa que não creio é que todos os irmãos no mundo todo estão sendo tentados ao mesmo tempo pelo diabo. Não há a menor possibilidade de isso acontecer. Mas se pensarmos que a humanidade pode ser tentada pela própria cobiça no mundo todo ao mesmo tempo, isso sim me parece plausível. Afinal, o egoísmo, cobiça, fome, frio, roubos, invejas, e outras maldades são as mesmas em qualquer parte do planeta.


Pedro escreve que é assim no mundo inteiro onde há cristãos há essa luta ferrenha contra a carne, contra a maldade que própria carne pode produzir. E mais; isso é privilegio somente “da irmandade”, ou seja, dos cristãos. Pedro não se refere a toda população ou a todas as pessoas. Pois a luta contra esse diabo só tem quem verdadeiramente faz parte da nova criação: a dos filhos de Deus.


O ser diabo (uma personificação do mal) pode até existir, mas não oferece risco aos filhos de Deus. Pois já foi por Ele vencido na cruz. Então o diabo que os cristãos devem tratar com sobriedade e vigilância não é outro senão a sua própria concupiscência.

By Fabrício Canalis+

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