segunda-feira, 15 de junho de 2009

µЄτάνοια


“Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” (2 Co. 7:10)

A palavra µЄτάνοια (metanóia) expressa a mudança profunda e radical da mente que o Espírito de Deus opera, em uma experiência genuína de salvação.

E a palavra mente destacada na definição de metanóia tem a seguinte definição segundo Thayer: “Mente, incluindo as faculdades de percepção e compreensão, emoções, juízo e vontade.

A faculdade intelectual, a razão, a faculdade de perceber coisas divinas, de reconhecer o bem e o mal, o poder de julgar sóbria, calma e imparcialmente, os poderes mais elevados da alma.” Souter acrescenta a definição acima o seguinte: “razão, intuição, coração.

A igreja por si só não existe. É formada por pessoas que supostamente tiveram um encontro com Deus que resultou em uma metanóia, ou seja, “mudança da mente, mudança do homem interior” (Souter), “arrependimento para a salvação” e por isso fazem parte de uma organização religiosa.

Com um fim específico de ajudar o próximo, a pregação do evangelho vai além de simples palavras. Era seguida de sinais maravilhosos onde os ouvintes, judeus em sua maioria, eram convencidos pelo Espírito através de maravilhas mostradas pelos apóstolos. Mas hoje temos ainda muitas igrejas descontextualizadas buscando receber e manifestar milagres e sinais maravilhosos.

Não levam em consideração as palavras de Jesus que diz: “Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”(Mt 12:39,40).

“Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. E, deixando-os, retirou-se” (Mt 16:4). E assim vivem nessa busca incessante por um sinal que já veio. E outros milagres poderão vir, mas, agora como conseqüência da metanóia e da vida comum com Deus.

Muitos milagres sairão das mãos da própria igreja, quando esta se dignar a sair em busca do perdido e necessitado ao invés de um viver ensimesmado e distante dos que realmente necessitam dela por “serem do mundo”.

Vou procurar me expressar melhor.
Uma igreja quando ora pedindo provisão aos que nada tem para se alimentar pode ser um milagre quando resolve arrecadar entre os irmãos e em toda comunidade alimentos para os tais necessitados. Deve procurar envolver-se dando exemplo de prática e através desse agir constranger a comunidade a participar ativamente desse processo.

O papel da igreja vai além de orar. Ele só começa com ela e depois é necessário seguir em frente na caminhada. A cada passo sendo mais parecido com Cristo e aprendendo mais dele, sendo como ele foi, agindo como ele agiu.

Não consigo ver a igreja cristã como verdadeira continuadora da obra e implantadora da “basileia tou theou” (Reino de Deus) sem que siga os passos de Cristo, sem que se pareça com ele. Não é possível sequer fazer a oração do “Pai Nosso” quando diz venha o teu Reino.

Pois esse Reino (do Pai) já veio com o advento de Cristo e a nós cabe dar segmento a implantação desse Reino, manifestando-o como Jesus o fez, ou seja, em amor. Pois, o Reino de Deus está presente e não está, ao mesmo tempo.

Deus está instalando e realizando seu Reino entre os homens agora mesmo. E este Reino de Deus presente entre nós não é imediatamente visível para todos. O Reino permanece oculto aos olhos dos que não estão preparados para recebê-lo, dos que não têm condições para aceitá-lo.

Por isso, ensinar o Reino de Deus não consiste em explicar o conceito nem em fazer com que se aceite, mas em mostrá-lo através de fatos concretos de tal maneira que as pessoas possam reconhecê-lo.

Talvez a palavra que mais traduza amor seja caridade. Que significa: altruísmo, beneficência, filantropia, humanidade. Que é amor com ação. Ou amor que gera ação. Portanto Cristão não é dizer o que Deus é, mas sim o que Deus faz.

Na Bíblia, reinar tem um sentido ativo: reinar é libertar, vencer, impor o seu domínio. Portanto a mensagem cristã não diz que Deus existe, o que dizem todas as religiões e todos os povos. Prefere dizer contra quem Deus luta, como luta e com que armas luta.

O Reino de Deus tem um nome concreto: Espírito Santo. Se o Reino de Deus é o Espírito Santo, isto quer dizer que Deus não luta por seu Reino sozinho. Deus entrega toda a sua luta nas mãos dos homens, pois, o Espírito não tem atuação própria; age sempre nos homens e através deles.

O Reino de Deus nasce se os homens aceitam agir e lutar. O Reino não existe se os homens não o tornam realidade.

Deus reina através da cruz: este é o mistério supremo do Reino. A cruz é a arma dos que não tem armas, a arma dos fracos, marginalizados. Significa que quando não há mais esperança, ainda resta a esperança da confiança do Pai, da segurança do triunfo do Reino de Deus, apesar de todas as adversidades.

A vitória e o Reino estão na própria cruz. A firmeza e invencibilidade do crucificado, que não cede diante das ameaças, é a essência da vitória. O Reino de Deus no tempo presente não é um reino estabelecido, instalado; é um reino da cruz. Sua vitória é o próprio combate.

A cruz é uma dimensão permanente do Reino. Deus reina nos crucificados porque eles são a parte do mundo que Satanás e o pecado não conseguiram conquistar. São os homens que não se renderam.

Assumir o mundo inteiro e transformá-lo numa missão total é o Reino de Deus na terra. Mas, para ser missionário, uma pessoa tem de haver passado e pela metanóia (conversão) sob pena de fazer coro às várias igrejas e sistemas institucionais que nasceram do cristianismo, entre elas várias Igrejas seculares, onde o individualismo não constrói o Reino de Deus, constrói o anti-reino.

O que está acontecendo em larga escala hoje em dia, vide os programas evangélicos de tv e a ênfase dada na maioria dos cultos evangélicos.

Ouso dizer que a igreja contemporânea depende mais do Diabo para sobreviver do que do próprio Deus. Experimentemos acabar com a ênfase nos demônios possuidores de corpos e geradores de doenças, maldições hereditárias ou não, e concentramos somente no que é bom e pregar a graça divina.

Talvez as igrejas e seus cofres fiquem vazios. No capitulo 16 deste livro questiono isso. Se o Diabo e o inferno não existissem ainda assim optaríamos por Deus? Nossa cede de Deus é pelo que ele é, ou por medo do sofrimento escatológico pregado e inventado pelos antigos chefes do catolicismo afim de controlar as pessoas e mantê-las escravizadas à fé herege que lhes era pregada?

A metanóia é vital para a salvação e o viver como tal. Ate mesmo o conhecimento e sabedoria disponíveis aos salvos são mais profundos, pois só tem acesso a eles quem faz parte da nova criação, assim como só podem entender e aceitar tais “insights” divinos.

Um exemplo clássico do que menciono agora é o senhorio absoluto de Jesus. Há varias referencias nas epistolas paulinas a Deus Pai como criador de todas as coisas, mas que traz Jesus Cristo como agente e alvo da criação.

Em Cl. 1,16 no grego o verbo está no tempo perfeito, que indica uma ação realizada no passado cujos efeitos e realidade ainda se fazem concretos no presente do escritor: “Deus tem criado nele, por meio dele, e para ele, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.

Através desta fórmula, Jesus é apresentado como meio-ambiente da criação (nele), como agente divino da criação (por meio dele), e como o alvo (para ele) da criação. A criação consiste de todas as criaturas, seja as que vivem na terra, seja as que vivem fora e acima dela.

A polêmica contra os conceitos dualistas do mundo presente na cultura greco-romana é claramente perceptível. Cl. 1:17 e 1 Co 8:6 afirmam que somente por meio de Cristo é que todas as criaturas subsistem.

Toda e qualquer idéia de um destino cego e impessoal, ou de poderes astrais ou demoníacos que governem a vida humana é colocada sob suspeita e mostrada inválida, pois há um só Senhor de todas as coisas: Jesus Cristo, o meio, agente e alvo da Criação de Deus Pai. “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele.”(Cl. 1:16)

Esta afirmação não pode ser interpretada simplesmente como que seres angelicais ou demoníacos, ou poderes e estruturas terrestres criados por Deus em Cristo, por meio de Cristo, e para Cristo.

Mas, simplesmente faz afirmação de que toda e qualquer estrutura, sociedade, leis, instituições e regularidades da natureza, evolução, história, a psiqué, a mente, estão sujeitas ao domínio e senhorio de Cristo como Senhor absoluto de todas as coisas. É Jesus o criador e senhor, é a fonte de vida, o garantidor da existência o alvo da realidade criada e a plenitude totalizadora de tudo quanto existe.

Na igreja regenerada, aquela que experimentou a metanóia, Deus é Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos, segundo traz Ef. 1:20-23 “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o a sua direita nos céus ,acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro;E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.”

A única maneira de sermos o que temos de ser, da maneira como Cristo sonhou que fossemos, e que o mundo desesperadamente necessita que sejamos; é através da metanóia.

Ou seja, através da mudança profunda e radical da mente -faculdade intelectual, a razão, a faculdade de perceber coisas divinas, de reconhecer o bem e o mal, o poder de julgar sóbria, calma e imparcialmente, os poderes mais elevados da alma, razão, intuição, coração - que o Espírito de Deus opera, em uma experiência genuína de salvação.

Sendo assim só me resta pedir que:
O SENHOR nos abençoe e nos guarde;
O SENHOR faça resplandecer o rosto sobre nós e tenha misericórdia de nós;
O SENHOR sobre nós levante o rosto e nos dê a paz.

By Presbítero Fabrício Canalis+

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