domingo, 28 de junho de 2009

O prazer de Deus

“E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”(Mateus 3:17)

Esse texto contém uma verdade maravilhosa, algo que realmente nos liberta e nos conforta. Tira de nossos ombros um grande peso: o de agradar a Deus com nossos atos e ações.


Deus só podia ter prazer através de Cristo, ou seja, nele mesmo como Deus que é. Mas após a morte e ressurreição de Jesus foi-nos aberto o caminho para a salvação através da justificação pela fé em Cristo.

Então a fé de Cristo em nós opera a conversão e a transformação necessária para que Deus possa ter prazer em nós e através de nós. A partir daí somos única e exclusivamente para o prazer de Deus.

Ô gloria! Que coisa maravilhosa! Como conseqüência do crer em Jesus obtivemos salvação e Deus passa a ter prazer em nós.

Isso traz alívio para minha alma, pois, não preciso mais preocupar-me em agradar a Deus com meus atos e tal. Ele só se agrada de mim através da minha fé. O único caminho para agradar a Deus é através da fé.


Então se eu creio em Cristo e no que seu sacrifício vicário me proporciona, posso me posicionar diante de Deus como filho e agradá-lo como tal, deixando-o agir através de mim e assim dando prazer a ele.

Afinal Deus está cansado de saber quem eu sou, e eu também. O que importa na nova caminhada com Deus é saber quem Deus é, e quem posso ser em Deus. Essa caminhada constante no aprender de Deus e de si mesmo gera transformação de vida a cada passo, a cada etapa vencida nessa nova vida.

E quanto mais se caminha, se cresce, amadurece. Nesse ínterim, Deus tem prazer em nós. Deus sabe quem somos, sabia mesmo antes de nascermos. E ainda assim nos escolheu para o seu prazer. “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer”. (salmos 16:3).

Você pode dizer: ah! Mas aqui ele fala de santos que há na terra. Pois, é isso mesmo. Santos somos nós. Cada um de nós que passou pelo processo de transformação radical do pensamento, transformação do homem interior, através da salvação por meio de Jesus.


Vamos falar um pouco sobre santidade. A palavra hebraica para santo é qadosh que quer dizer separado, destacado. Portanto, santo quer dizer separado por Deus e para Deus. Mas a santidade é só Deus quem pode produzir. Só Deus pode escolher e separar os que ele quer.

Então não há nada que eu possa fazer para ser santo. Nem estar aberto a isso. Pois a Deus pertence tanto o agir como o realizar. Agora, posso escolher o que fazer a partir dessa informação.

Como? Sendo simplesmente eu. Sendo o eu que Deus quer que eu seja. Ou eu creio que Deus é poderoso para me amar como sou e me transformar de acordo com sua vontade para seu prazer, ou continuo me maltratando e negando a perdoar a mim próprio deixando de dar prazer a Deus e deixando de ter prazer nele e em todo o resto.

Aí a pessoa fica de mal com vida. Sabe aquela pessoa amarga que nada a contenta, que nunca consegue nada e quando consegue; não valoriza, não lhe dá prazer. Pois é! isso é a falta de perdão. Não de Deus, mas de si próprio.

Muitas pessoas se encontram nessa situação por uma compreensão errônea do evangelho. Um evangelho barato, sem cruz, pregado por igrejas onde a prioridade é a arrecadação dos dízimos e a escravização das mentes; ao sistema religioso, ao medo do diabo e seus demônios, e a manifestações de sinais e maravilhas nem sempre genuinamente divinas.


Como posso dar prazer a Deus ou ser para o seu prazer se não tenho sequer prazer em viver ou em Deus e em mim próprio?
Não estou fazendo apologia ao hedonismo, muito pelo contrario, o prazer de Deus e em Deus traz como conseqüência o prazer às mínimas coisas em nossa vida.


E como mudamos ao saber que somos para o prazer de Deus! Ao saber que não importam as coisas que fazemos de errado, que vamos continuar errando enquanto viver, mas que isso não interfere em nada o que Deus pensa de nós, nos sentimos aliviados e leves. E isso é maravilhoso!

Não há nada que eu possa fazer que venha a ser uma surpresa a Deus. Deus sabe de tudo de antemão. Afinal ele é onisciente. E a presciência de Deus sobre mim o impede de ser pego de surpresa quando faço algo ruim.

Ele sabe de tudo e mesmo assim me amou e me escolheu. Fez isso porque é poderoso para me transformar naquilo que ele quer que eu seja e assim ter prazer em mim. Não no eu terminado, mas durante todo o processo pelo qual passo e passarei ele terá prazer em mim.


Quando a igreja entende isso Deus passa a ter prazer nela. E enquanto ela não entende isso, além de não dar prazer a Deus, não tem prazer em Deus e muito menos no servir a ele e a comunidade ou ao próximo.

Torna-se uma igreja apática, hipócrita, morna, insípida e geralmente abastada ou com pastores bem servidos financeiramente.
Somos os únicos seres capazes de dar prazer a Deus. Deus tem prazer em toda a criação por tê-la criado. Mas, nós podemos dar prazer a Deus quando agimos em favor da criação.


Outra coisa que dá prazer a Deus é a prosperidade do justo. “Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja o SENHOR, que se compraz na prosperidade do seu servo!” (salmos 35:27)


Quem é justo? Todo aquele que foi por Deus justificado através do sacrifício vicário de Cristo.

O que é prosperidade? É não ter falta de nada que seja necessário para se ter uma vida regalada nesta terra. E isso não diz respeito somente às finanças, mas sim em todos os sentidos. Sejam: conhecimento, amizades, alimento, vestimenta, lazer, ou prazer.

By Fabrício Canalis+

terça-feira, 23 de junho de 2009

O diabo na tentação de Jesus

“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.

Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.

Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto. Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram.” (Mt. 4:1 a 11)

Bom, como diria Jack -o estripador- vamos por partes.


Vamos experimentar trocar a palavra diabo por: sua própria concupiscência. Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pela sua própria concupiscência. E depois de jejuar por um longo tempo, sua concupiscência estava a mil.


É como ir fazer compras em um supermercado morrendo de fome. Quem resiste em comprar as mais deliciosas guloseimas? Da vontade de comer tudo e de tudo. Pois é. Nessas condições Jesus começa a lutar com ele mesmo, ou, com sua própria concupiscência. E então vem a mente de Jesus: se sou o filho de Deus, o ser pelo qual Deus criou todas as coisas, posso ordenar a essas pedras que se transformem em pães e matarei minha fome.


Mas lembrou-se de que a humanidade não viveria eternamente só de pães. E Ele como palavra de Deus era mais importante para toda a humanidade sendo a palavra de Deus. E que por ela- a palavra- ele e toda a humanidade deveriam viver.

E essa vida sim seria eterna e gloriosa. Era um primeiro momento em que Jesus entregou o cuidado de sua vida a Deus. Deus deveria ser suficientemente poderoso para sustê-lo, e ele confiava, aceitava e assumia o plano perfeito de Deus para ele e para toda a humanidade. “Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.”



Então, sua própria concupiscência carnal o fez duvidar e pensar: se vou morrer aqui de fome por que não atenuar esse sofrimento logo de uma vez? Ou, se sou importante mesmo, se sou filho de Deus, posso atirar-me aqui de cima do pináculo do templo e nada de mal me sucederá “porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.”?


E nesse solilóquio angustiante percebe que sua vontade carnal o levaria a tentar o próprio Deus e pior se sucumbisse a carnalidade se tornaria o diabo (o tentador) de Deus.

Que esse ato o desviaria do propósito de Deus para ele e para a humanidade. E então faria parte e contribuiria para a injustiça desse mundo, condenando de uma vez por todas a humanidade e toda a criação a uma vida de cobiça e maldade eternas.

Já pensou se o mundo fosse como é hoje por toda eternidade? Sem nenhuma esperança de justiça, de melhora, de redenção? “Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.”


E Jesus foi levado por sua concupiscência carnal, a cobiça, a um monte muito alto, e viu todos os reinos do mundo e a glória deles e disse a si mesmo: Tudo isto pode ser meu. Basta me entregar a esse desejo e esquecer do propósito de Deus para minha vida e para a humanidade.

E em vez de obedecer a Deus, obedecerei a minha própria vontade. Jesus naquele momento não podia impedir que esses pensamentos aparecessem em sua mente, mas podia impedir de que ficassem e dominassem sobre ele.

Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, pensamento tentador, porque está escrito: Ao Senhor, meu Deus, pertence minha mente, minha alma e minha vida para adorá-lo, e só a ele me dedicarei e me consagrarei.


Com isto, venceu a concupiscência carnal que o deixou, e eis que vieram mensageiros de Deus e cuidaram de Jesus. Em Lucas 4:13 está escrito: “Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno.”


É bem mais cômodo para nós acreditar no diabo e em coisas espiritualizadas. Mas, é bem mais difícil encarar que o diabo somos nós mesmos em nossa concupiscência carnal que nos afasta de Deus e de seu propósito para nossa vida.


É mais fácil culpar um ser chamado diabo a combater a própria maldade. Ou assumir a própria responsabilidade sobre nossos erros.

By Fabrício Canalis+

O diabo na carta de Pedro

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”.
(I Pe. 5:8, 9)

Seguindo no propósito de trocar a palavra diabo por concupiscência da carne, analisaremos o texto acima proposto.
Pedro que já era bastante experiente quanto a ser peneirado por satanás escreve o documento dando o seguinte conselho: “Sede sóbrios e vigilantes...”. Sóbrio quer dizer: abstinente, abstêmio, casto, moderado, recatado entre outros sinônimos.


E vigilante quer dizer: atento, cauteloso, precavido, prudente. Agora, de que adiantaria ser tudo isso contra um diabo que é ser maligno perito em enganar e com tanto poder capaz de desencaminhar (se possível fosse) os filhos de Deus?

Mas se pensarmos no diabo como nossa própria concupiscência carnal, nossa tendência pecaminosa, nosso desejo pelo pecado, e nossa incrível capacidade em nos enganar a nos mesmos em favor de atos pecaminosos, fica mais clara a intenção de Pedro. Ele escreve justamente isso.


Cuidado consigo mesmo, sejam abstêmios da carne, sejam precavidos contra os desejos da carne e suas palavras doces como mel, mas que levam a inteira submissão à sujeira do pecado. Não que isso leve o pecador ao inferno, mas desvia a atenção da pessoa da vontade de Deus e das coisas que Deus tem para nos dar como a maturidade espiritual necessária para viver uma vida aos seus pés e impede-nos de dar os Frutos do Espírito.


A contemplação e o ceder às concupiscências nos mantêm sempre nos mesmos erros, na mesma vida, nos impede de crescer e amadurecer e ser mais parecidos com Cristo.
“O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.” Será que um ser maligno anda ao derredor de todos os cristãos no mundo? Então o diabo é onipresente assim como Deus?


Creio que o diabo mencionado nesse texto é a malicia do ser humano em convidar-nos e tentar-nos a atender a concupiscência carnal. E essa concupiscência poder ser qualquer coisa que nos desvie da vontade de Deus e nos insira no contexto desse sistema mundano corrompido pelo pecado ao qual temos que nos opor com toda força e reverter o mal que o mesmo tem provocado à vida das pessoas e a toda a criação.


“Resisti-lhe firmes na fé”. Resistir a quem? Ao diabo, “poderoso ser maligno” que só Deus pode conter e Jesus o único a resistir-lhe? Não creio nisso. Pois se Deus e Cristo já o venceu, ainda tenho eu que resistir a ele? Creio que Pedro mais uma vez se dirige à tentação e o desejo pela concupiscência carnal.

Devemos resistir às tentações de fazer parte ou de contribuir com o sistema mundano corrompido como, por exemplo: agir com injustiça, maltratando ou deixando que maltratem a criação como um todo. É resistir à própria cobiça de ter mais do que necessário e a custa de outrem ou do meio ambiente. É resistir ao desejo de passar os outros para trás, de se dar bem a qualquer custo.


“Certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”. Outra coisa que não creio é que todos os irmãos no mundo todo estão sendo tentados ao mesmo tempo pelo diabo. Não há a menor possibilidade de isso acontecer. Mas se pensarmos que a humanidade pode ser tentada pela própria cobiça no mundo todo ao mesmo tempo, isso sim me parece plausível. Afinal, o egoísmo, cobiça, fome, frio, roubos, invejas, e outras maldades são as mesmas em qualquer parte do planeta.


Pedro escreve que é assim no mundo inteiro onde há cristãos há essa luta ferrenha contra a carne, contra a maldade que própria carne pode produzir. E mais; isso é privilegio somente “da irmandade”, ou seja, dos cristãos. Pedro não se refere a toda população ou a todas as pessoas. Pois a luta contra esse diabo só tem quem verdadeiramente faz parte da nova criação: a dos filhos de Deus.


O ser diabo (uma personificação do mal) pode até existir, mas não oferece risco aos filhos de Deus. Pois já foi por Ele vencido na cruz. Então o diabo que os cristãos devem tratar com sobriedade e vigilância não é outro senão a sua própria concupiscência.

By Fabrício Canalis+

segunda-feira, 15 de junho de 2009

µЄτάνοια


“Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” (2 Co. 7:10)

A palavra µЄτάνοια (metanóia) expressa a mudança profunda e radical da mente que o Espírito de Deus opera, em uma experiência genuína de salvação.

E a palavra mente destacada na definição de metanóia tem a seguinte definição segundo Thayer: “Mente, incluindo as faculdades de percepção e compreensão, emoções, juízo e vontade.

A faculdade intelectual, a razão, a faculdade de perceber coisas divinas, de reconhecer o bem e o mal, o poder de julgar sóbria, calma e imparcialmente, os poderes mais elevados da alma.” Souter acrescenta a definição acima o seguinte: “razão, intuição, coração.

A igreja por si só não existe. É formada por pessoas que supostamente tiveram um encontro com Deus que resultou em uma metanóia, ou seja, “mudança da mente, mudança do homem interior” (Souter), “arrependimento para a salvação” e por isso fazem parte de uma organização religiosa.

Com um fim específico de ajudar o próximo, a pregação do evangelho vai além de simples palavras. Era seguida de sinais maravilhosos onde os ouvintes, judeus em sua maioria, eram convencidos pelo Espírito através de maravilhas mostradas pelos apóstolos. Mas hoje temos ainda muitas igrejas descontextualizadas buscando receber e manifestar milagres e sinais maravilhosos.

Não levam em consideração as palavras de Jesus que diz: “Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”(Mt 12:39,40).

“Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. E, deixando-os, retirou-se” (Mt 16:4). E assim vivem nessa busca incessante por um sinal que já veio. E outros milagres poderão vir, mas, agora como conseqüência da metanóia e da vida comum com Deus.

Muitos milagres sairão das mãos da própria igreja, quando esta se dignar a sair em busca do perdido e necessitado ao invés de um viver ensimesmado e distante dos que realmente necessitam dela por “serem do mundo”.

Vou procurar me expressar melhor.
Uma igreja quando ora pedindo provisão aos que nada tem para se alimentar pode ser um milagre quando resolve arrecadar entre os irmãos e em toda comunidade alimentos para os tais necessitados. Deve procurar envolver-se dando exemplo de prática e através desse agir constranger a comunidade a participar ativamente desse processo.

O papel da igreja vai além de orar. Ele só começa com ela e depois é necessário seguir em frente na caminhada. A cada passo sendo mais parecido com Cristo e aprendendo mais dele, sendo como ele foi, agindo como ele agiu.

Não consigo ver a igreja cristã como verdadeira continuadora da obra e implantadora da “basileia tou theou” (Reino de Deus) sem que siga os passos de Cristo, sem que se pareça com ele. Não é possível sequer fazer a oração do “Pai Nosso” quando diz venha o teu Reino.

Pois esse Reino (do Pai) já veio com o advento de Cristo e a nós cabe dar segmento a implantação desse Reino, manifestando-o como Jesus o fez, ou seja, em amor. Pois, o Reino de Deus está presente e não está, ao mesmo tempo.

Deus está instalando e realizando seu Reino entre os homens agora mesmo. E este Reino de Deus presente entre nós não é imediatamente visível para todos. O Reino permanece oculto aos olhos dos que não estão preparados para recebê-lo, dos que não têm condições para aceitá-lo.

Por isso, ensinar o Reino de Deus não consiste em explicar o conceito nem em fazer com que se aceite, mas em mostrá-lo através de fatos concretos de tal maneira que as pessoas possam reconhecê-lo.

Talvez a palavra que mais traduza amor seja caridade. Que significa: altruísmo, beneficência, filantropia, humanidade. Que é amor com ação. Ou amor que gera ação. Portanto Cristão não é dizer o que Deus é, mas sim o que Deus faz.

Na Bíblia, reinar tem um sentido ativo: reinar é libertar, vencer, impor o seu domínio. Portanto a mensagem cristã não diz que Deus existe, o que dizem todas as religiões e todos os povos. Prefere dizer contra quem Deus luta, como luta e com que armas luta.

O Reino de Deus tem um nome concreto: Espírito Santo. Se o Reino de Deus é o Espírito Santo, isto quer dizer que Deus não luta por seu Reino sozinho. Deus entrega toda a sua luta nas mãos dos homens, pois, o Espírito não tem atuação própria; age sempre nos homens e através deles.

O Reino de Deus nasce se os homens aceitam agir e lutar. O Reino não existe se os homens não o tornam realidade.

Deus reina através da cruz: este é o mistério supremo do Reino. A cruz é a arma dos que não tem armas, a arma dos fracos, marginalizados. Significa que quando não há mais esperança, ainda resta a esperança da confiança do Pai, da segurança do triunfo do Reino de Deus, apesar de todas as adversidades.

A vitória e o Reino estão na própria cruz. A firmeza e invencibilidade do crucificado, que não cede diante das ameaças, é a essência da vitória. O Reino de Deus no tempo presente não é um reino estabelecido, instalado; é um reino da cruz. Sua vitória é o próprio combate.

A cruz é uma dimensão permanente do Reino. Deus reina nos crucificados porque eles são a parte do mundo que Satanás e o pecado não conseguiram conquistar. São os homens que não se renderam.

Assumir o mundo inteiro e transformá-lo numa missão total é o Reino de Deus na terra. Mas, para ser missionário, uma pessoa tem de haver passado e pela metanóia (conversão) sob pena de fazer coro às várias igrejas e sistemas institucionais que nasceram do cristianismo, entre elas várias Igrejas seculares, onde o individualismo não constrói o Reino de Deus, constrói o anti-reino.

O que está acontecendo em larga escala hoje em dia, vide os programas evangélicos de tv e a ênfase dada na maioria dos cultos evangélicos.

Ouso dizer que a igreja contemporânea depende mais do Diabo para sobreviver do que do próprio Deus. Experimentemos acabar com a ênfase nos demônios possuidores de corpos e geradores de doenças, maldições hereditárias ou não, e concentramos somente no que é bom e pregar a graça divina.

Talvez as igrejas e seus cofres fiquem vazios. No capitulo 16 deste livro questiono isso. Se o Diabo e o inferno não existissem ainda assim optaríamos por Deus? Nossa cede de Deus é pelo que ele é, ou por medo do sofrimento escatológico pregado e inventado pelos antigos chefes do catolicismo afim de controlar as pessoas e mantê-las escravizadas à fé herege que lhes era pregada?

A metanóia é vital para a salvação e o viver como tal. Ate mesmo o conhecimento e sabedoria disponíveis aos salvos são mais profundos, pois só tem acesso a eles quem faz parte da nova criação, assim como só podem entender e aceitar tais “insights” divinos.

Um exemplo clássico do que menciono agora é o senhorio absoluto de Jesus. Há varias referencias nas epistolas paulinas a Deus Pai como criador de todas as coisas, mas que traz Jesus Cristo como agente e alvo da criação.

Em Cl. 1,16 no grego o verbo está no tempo perfeito, que indica uma ação realizada no passado cujos efeitos e realidade ainda se fazem concretos no presente do escritor: “Deus tem criado nele, por meio dele, e para ele, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.

Através desta fórmula, Jesus é apresentado como meio-ambiente da criação (nele), como agente divino da criação (por meio dele), e como o alvo (para ele) da criação. A criação consiste de todas as criaturas, seja as que vivem na terra, seja as que vivem fora e acima dela.

A polêmica contra os conceitos dualistas do mundo presente na cultura greco-romana é claramente perceptível. Cl. 1:17 e 1 Co 8:6 afirmam que somente por meio de Cristo é que todas as criaturas subsistem.

Toda e qualquer idéia de um destino cego e impessoal, ou de poderes astrais ou demoníacos que governem a vida humana é colocada sob suspeita e mostrada inválida, pois há um só Senhor de todas as coisas: Jesus Cristo, o meio, agente e alvo da Criação de Deus Pai. “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele.”(Cl. 1:16)

Esta afirmação não pode ser interpretada simplesmente como que seres angelicais ou demoníacos, ou poderes e estruturas terrestres criados por Deus em Cristo, por meio de Cristo, e para Cristo.

Mas, simplesmente faz afirmação de que toda e qualquer estrutura, sociedade, leis, instituições e regularidades da natureza, evolução, história, a psiqué, a mente, estão sujeitas ao domínio e senhorio de Cristo como Senhor absoluto de todas as coisas. É Jesus o criador e senhor, é a fonte de vida, o garantidor da existência o alvo da realidade criada e a plenitude totalizadora de tudo quanto existe.

Na igreja regenerada, aquela que experimentou a metanóia, Deus é Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos, segundo traz Ef. 1:20-23 “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o a sua direita nos céus ,acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro;E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.”

A única maneira de sermos o que temos de ser, da maneira como Cristo sonhou que fossemos, e que o mundo desesperadamente necessita que sejamos; é através da metanóia.

Ou seja, através da mudança profunda e radical da mente -faculdade intelectual, a razão, a faculdade de perceber coisas divinas, de reconhecer o bem e o mal, o poder de julgar sóbria, calma e imparcialmente, os poderes mais elevados da alma, razão, intuição, coração - que o Espírito de Deus opera, em uma experiência genuína de salvação.

Sendo assim só me resta pedir que:
O SENHOR nos abençoe e nos guarde;
O SENHOR faça resplandecer o rosto sobre nós e tenha misericórdia de nós;
O SENHOR sobre nós levante o rosto e nos dê a paz.

By Presbítero Fabrício Canalis+